Conheci um jovem negro que tentava convencer-me: “a ciência foi inventada pelos negros! E os brancos a roubaram!” Eu lhe disse que a ciência não é de brancos nem de negros, mas de homens, e que não importava se os brancos a inventaram. Ele retrucou rápido: “você não sabe de nada, precisamos conversar…”; e desfiou sua tese que, além de confundir ciência no sentido moderno com a antiga filosofia da natureza, entre outras confusões mostrou-se, obviamente, uma teoria da conspiração.
A isso respondi-lhe: “enquanto você separa o que é do branco e do negro, e tenta criar um mundo do negro, e ser a alternativa do branco, e fazer da “negritude” a norma para o negro e empurrar o branco para a sua norma branca, você ainda é o negro do branco. Eu me livrei disso quando deixei de ser o negro do branco. Eu sou um homem.”
Ele elogiou minhas filhas. “Duas princesas africanas!” A mais velha, que sofreu racismo em diversas ocasiões, não se impressionou. “Sou Brasileira!” Duas belas pretas Brasileiras, mas sabemos de família: índios, negros e europeus entraram em nosso sangue. Somos o melting pot. Mas por razões medelianas, elas são mais “africanas” e eu mais “índio” e meus irmãos mais “europeus”. Eu saí um negro ambíguo.
Mas para alguns sofistas somos simplesmente negros, com um etos negro, um patos negro, uma identidade negra, e um destino negro. Ou somos isso, ou não somos nada. Ou negamos quem somos.
‘Raça’ como base para distinções culturais e autoconstituição identitária, isso para mim é que é um nada; quanto a isso, sigo um ateu. E ainda mais ateu desses ideólogos que querem me usar nessa horrenda balcanização identitária, a serviço do puro agonismo político. Para quê criar tribos de negros? Para legitimar as tribos de brancos? Para oportunizar supremacistas malucos?
E quanto à ciência: de fato ela não é dos brancos, nem dos negros, nem dos homens, nem das mulheres, nem dos crentes, nem dos ateus. A ciência pertence aos seres humanos, e não interessa a cor, o sexo e a crença de quem a pratica para o bem comum.
Acredito em políticas de mobilidade social e na criminalização do racismo. Até mesmo em cotas, em certos contextos. Mas não acredito em negros de brancos, nem em brancos de negros que querem me salvar da “cultura dos brancos” e me ensinar “a cultura dos negros”. Sou um negro, mas não sou o negro dos brancos. Sou um homem.
*Quanto à ciência moderna… recomendo Peter Harrison, em “Os Territórios da Ciência e da Religião” (Ultimato). Para compreender que houve grandes pensadores africanos, mas que a ciência moderna nasceu, enfim, na Europa branca e Cristã. Se isso lhe incomoda, o fantasma do branco ainda se esconde no seu corpo: você ainda é o negro de algum branco.
A RAÇA É HUMANA. Não existe outro tipo de raça entre nós. Se existe me mostrem, por favor.
CurtirCurtir
Foi o que eu disse.
CurtirCurtir
Guilherme a ideia de que a ciência “nasceu” na Europa na idade média é o que a história convenientemente convencionou, na verdade a ciência é anterior ao método científico proposto por Francis Bacon.
CurtirCurtir
Então Carlos… no projeto “Cristãos na Ciência” estamos lidando em detalhes com esses assuntos. Recomendo que vc se informe pelo site: http://www.cristaosnaciencia.org.br, e também que confira o livro que recomendei. É o 8vo volume de uma série sobre Teologia e Ciência que estou editando através da Ultimato. Abraços.
CurtirCurtir
Perfeito!
CurtirCurtir
Grande Guilherme, excelente texto. Há pouco estava conversando com uma querida amiga que, ao me ouvir citá-lo neste texto, me perguntou: “Mas você não acha que movimentos exclusivamente de negros seja uma ferramenta importante de mobilização e vocalização dos dilemas dessa comunidade? Algo como um movimento de transição entre a história de opressão e um futuro mais justo?”
Respondi que sim, essa representação pode ser positiva, mas não é esse o problema. Acho que nenhum desses grupos afirmaria que sua luta ou movimento são transitórios. Não são pontos de partida, mas pontos de chegada Para mim trata-se de uma busca redentiva e identitária, que fragmenta o homem para depois reduzí-lo a um dos seus aspectos. É uma hipertrofia da raça ou do gênero, ou seja lá o que for, e a absolutização deste aspectos sobre os demais. Nessa busca por identidade, o homem cai na ruptura de si mesmo pois não se vê como ser humano completo, mas como apenas “uma causa com pernas e braços”. Acho que se os movimentos fossem conscientes deste perigo e procurassem ser realmente transitórios poderiam ajudar mais, mas na minha opinião não é assim que acontece. O que acha?
CurtirCurtir
Muito bom!
CurtirCurtir